O presente trabalho tem como objetivo, por um lado, apresentar resultados preliminares de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no âmbito do projeto Estudo teórico-metodológico de tradições discursivas do domínio epistolar com foco em cartas pessoais e cartas da administração pública do Ceará, vinculado ao grupo de pesquisa Tradice, que se destina a descrever, sob uma perspectiva diacrônica, tradições discursivas que compuseram a memória cultural das comunidades do Ceará do século XVIII aos dias atuais, e, por outro, integrar as pesquisas dos grupos afiliados ao Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB), cujo propósito é descrever, em uma perspectiva diacrônica, a variante brasileira da língua portuguesa. A concepção que norteia a proposta de nosso estudo é a de tradição discursiva, utilizada em estudos desenvolvidos por romanistas alemães, como Kabatek (2004, 2005, 2008), Koch; Oesterreicher (1985, 1994, 2001), entre outros. Desse modo, consideraremos que as tradições discursivas dizem respeito a textos que estabelecem uma relação de tradição com outros textos, repetindo formas textuais numa escala contínua que vai desde uma “determinada denominação textual ou uma determinada fórmula em um texto ainda não fixado [...] a uma completa fixidez do texto” (KABATEK, 2004, on-line). Metodologicamente, para este estudo, selecionamos 40 cartas, das quais 20 são cartas da administração pública, recolhidas no Arquivo Público do Ceará, e 20 cartas pessoais, recolhidas de arquivos de cearenses nacionalmente reconhecidos. Nossos dados iniciais apontam que, tanto no gênero carta pessoal, quanto nos documentos da administração pública, as tradições discursivas mais evidentes são o uso de pronomes de tratamento no vocativo e de formas textuais prototípicas de abertura e fechamento dos textos, configurando uma característica peculiar que permeia esses gêneros ainda hoje.
Palavras-chave: tradição discursiva, gênero epistolar, cartas oficiais, cartas particulares
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