O trabalho tem por objetivo analisar a prosódia das interrogativas totais – perguntas cuja estrutura assemelha-se à de sentenças declarativas, que podem ser respondidas com “sim” ou “não” –, comparando duas amostras de fala do Rio de Janeiro: uma de fala espontânea (FE) e uma de leitura (LE). O corpus consiste em gravações de um jogo das personagens, que objetivava induzir os informantes a produzir um grande número de sentenças interrogativas; e, ao mesmo tempo, tornar a situação de gravação lúdica e descontraída, gerando assim um maior nível de espontaneidade na fala dos sujeitos. Após a primeira sessão de gravação, o diálogo entre os participantes do jogo foi transcrito grafematicamente e lido, alguns dias depois, pelos mesmos indivíduos. As sentenças que compõem as duas partes do corpus são, portanto, lexical e morfologicamente idênticas, sendo possível afirmar que qualquer diferença prosódica existente entre elas se deve unicamente à diferença entre as modalidades de FE e LE. A análise dos dados baseou-se no Método de Análise Melódica da Fala de Cantero & Font-Rotchés, desenvolvido a fim de descrever padrões melódicos sentenciais em uma língua e permitir a comparação com outras línguas. Na pesquisa, observou-se que tanto as interrogativas espontâneas quanto as lidas confirmam o padrão descrito pela literatura, embora a amostra de leitura revele uma curva mais regular, ou seja, com menos oscilações ao longo do contorno. Com base em resultados preliminares obtidos em trabalho anterior, postulou-se a hipótese de que fatores estruturais influenciariam o contorno melódico das sentenças. Constatou-se, no entanto, que a expressão de atitudes e, muitas vezes, de fórmulas prosódicas, isto é, modelos de sentença repetidos inúmeras vezes pelo falante em determinada situação comunicativa, têm papel muito mais determinante no formato da curva.
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