O uso da língua diz muito a respeito de um falante, pois, muitas vezes, revela sua idade, sexo e classe social. A variedade linguística utilizada por pessoas oriundas das camadas mais pobres da população e com pouca escolaridade é alvo do preconceito linguístico que põe a variedade padrão, utilizada por grupos de maior prestígio social, acima das variedades não-padrão, consideradas inadequadas, “feias”, incapazes de gerar comunicação, desconsiderando completamente que os fenômenos que ocorrem nessas variedades e são considerados “erros” têm uma explicação lógica, amparada no processo de evolução da língua, que ocorreram e ocorrem em vocábulos pertencentes à variedade padrão. Como afirma Gnerre (1991), a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder. Apresentaremos neste trabalho os resultados de uma pesquisa iniciada em 2013 a respeito da ocorrência de metaplasmos de transposição na fala e na escrita. Os fonemas são o material sonoro da língua e estão sujeitos às leis da transformação. Desde a origem latina, têm ocorrido transformações fonéticas na Língua Portuguesa, que ainda hoje são encontrados na fala espontânea e na escrita de pessoas com pouca escolaridade, chamadas pela Linguística Histórica de metaplasmos. Nosso objetivo é verificar as transformações sofridas pela língua portuguesa por meio de um tipo específico de metaplasmo, o de transposição. Segunda a Gramática Histórica da Língua Portuguesa de Said Ali (1966), muitas palavras do português formal usado no Brasil foram formadas a partir de metaplasmos. Esta pesquisa foi realizada levando-se em conta os aspectos diacrônicos e sincrônicos da língua. As ocorrências encontradas são oriundas de gravações da fala e em um questionário aplicado a educandos das quatro séries iniciais do Ensino Fundamental da escola pública. Observou-se que há poucas ocorrências dos metaplasmos de transposição, no entanto, este é um fenômeno ainda recorrente na oralidade e na escrita.
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