O benzimento é um gênero textual oral, de origem popular, que tem por objetivo a promoção do alívio ou a cura de males físicos, espirituais ou sociais daqueles/as que procuram o sujeito benzedor autônomo. A ação de benzer realizada pelo/a benzedor/a é a um só tempo a realização de um fim comunicativo (pedir a Deus) articulada a outra: curar. Para tanto, o gênero deve adequar-se às demandas da pessoa que o busca com vistas a amenizar sua dor ou problema. A base teórica do trabalho é a teoria da prática comunicativa de Hanks (1996; 2008; 2010), para quem os gêneros textuais não são somente artefatos linguísticos formais, mas também quadros sociais e culturais de orientação de ações de produção e recepção textual pelos sujeitos. Sendo um gênero bastante centrado no seu destinatário, este trabalho tem por objetivo analisar a dimensão emergente (que emerge no curso da própria condução do texto, centrada no destinatário, portanto) do gênero benzimento. Em duas entrevistas e observação etnográfica com duas benzedoras das regiões administrativas de Ceilândia e Taguatinga (ambas situadas em Brasília, no Distrito Federal), observou-se que ambas, mesmo afirmando que sua “oração é uma só”, na condução da realização prática do ritual, isto é, a dimensão emergente, revelavam que o gênero é plástico e multivariado. De acordo com o destinatário, a benzedora acrescenta, repete ou retira informações, plasmando a realização do gênero segundo o contexto pragmático da interação. As constatações nos levam a seguir defendendo a hipótese de que, dado seu forte caráter emergente, o gênero benzimento poderia ser caracterizado menos por uma estrutura composicional rígida do que por uma sensibilidade à agência do sujeito benzedor.
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