O sistema pronominal de tratamento do português brasileiro em cartas pessoais pernambucanas dos séculos XIX e XX: Tradições discursivas, variação e mudança
Valéria Severina Gomes (lelavsg@gmail.com)

Nesta comunicação, abordarei, com base nos estudos sócio-históricos da mudança linguística, o sistema pronominal de tratamento tu - você no português brasileiro. Pesquisas anteriores, no cenário brasileiro (RJ, MG, SP, PR, SC, BA e RN), contribuíram para o entendimento do funcionamento do sistema tratamental e seus subsistemas: a passagem de Vossa Mercê a você; a variação você e tu a partir do século XIX; a forma te como acusativo e dativo, resistindo à entrada de você; e as formas variantes de uso no paradigma de segunda pessoa (nominativo, acusativo, dativo e oblíquo). Para efeito de uma análise contrastiva, o propósito desta pesquisa é investigar, com base na concepção sócio-histórica da língua(gem), como ocorre o processo de variação e mudança no sistema pronominal de tratamento do português brasileiro, a partir da análise de cartas pessoais de Pernambuco dos séculos XIX e XX. Nesse sentido, a pesquisa adota como aparato teórico os fundamentos básicos para uma sócio-história do português brasileiro (CASTILHO, 1998, 2010; MATTOS E SILVA, 2001, 2004, 2006; PESSOA, 2003, LOPES, 2005, 2011, 2012); a Sociolinguística variacionista (LABOV, 1994, 2008; WEINREICH, LABOV E HERZOG, 2006); e o conceito de Tradições Discursivas (KABATEK, 2001, 2006; OESTERREICHER, 1997, 2002; KOCH, 1997). Os resultados parciais apontam para um espaço de disputa entre as formas tu – você a partir da entrada do você nos anos de 1930 (DUARTE, 1993, 1995), e esses traços de variação estão relacionados ao gênero textual, ao papel social do sujeito escrevente e ao tipo de relação, simétrica ou assimétrica, entre os interlocutores. Palavras-chave: historicidade; cartas pessoais; tradição discursiva; sistema pronominal.

O comportamento de sujeitos nulos e plenos em escrituras pernambucanas dos séculos XIX e XX
Claudia Roberta Tavares Silva (claudiarobertats@gmail.com)

Tomando por base diferentes gêneros textuais pernambucanos dos séculos XIX e XX, busco verificar se há alguma assimetria no que diz respeito ao comportamento dos sujeitos nulos e plenos no português Brasileiro (PB). Estudos apontam que, desde a segunda metade do século XIX, o PB vem atravessando um processo de mudança gramatical ocasionado pelo enfraquecimento de sua morfologia de flexão verbal resultante da reorganização de seu paradigma de flexão verbal (cf. DUARTE, 1995, 2000; ROBERTS; KATO, 1996). Aspectos sintáticos da emergência de uma nova gramática podem ser verificados como, por exemplo, aumento substancial de sujeitos plenos e restrição da ordem verbo-sujeito (VS) a contextos inacusativos (cf. BERLINCK, 1988, 2000, KATO, NEGRÃO, 2000; SILVA, 2004), o que implica considerar que está havendo um processo de perda do Princípio Evite Pronome (cf. DUARTE, 1995, 2000). Os objetivos são: a) discutir o comportamento dos sujeitos nulos e plenos, levando em conta sua intrínseca relação com natureza com do paradigma de flexão verbal e pronominal; b) comparar os resultados obtidos nesta pesquisa com os de outros estudos, a fim de estabelecer possíveis semelhanças e diferenças e c) verificar se há indícios de um processo de mudança no PB a partir dos dados em análise. A pesquisa embasou-se no quadro teórico do Modelo de Princípios e Parâmetros (cf CHOMSKY, 1981 1986) e, durante a análise, foram selecionadas as seguintes variáveis: distribuição de sujeitos nulos e plenos, referência semântica do sujeito, natureza do sujeito pleno, concordância verbal e ordem de palavras. Os resultados apontam para um processo de mudança por que tem passado o PB, indo na direção do que é proposto em Kato e Roberts (1996). Palavras-chave: sujeitos; flexão verbal; paradigma pronominal; português; escrita; diacronia

As construções verbo-sujeito e sua correlação com as estratégias de textualidade em manuscritos e impressos pernambucanos
Cleber Ataíde (cleberataide@gmail.com)

Esta pesquisa insere-se nos recentes estudos sobre a história do Português Brasileiro e tem por objetivo demonstrar que o fenômeno da ordenação verbo-sujeito no português é resultado, além da atuação de fatores formais. Para tanto, parto da hipótese de que o que está em jogo na ordem VS é, principalmente, o grau de informatividade do SN-sujeito e sua correlação com as estratégias de textualidade. Para esta investigação, selecionei seis fatores que permitissem analisar a cláusula VS em dois níveis complementares: o linguístico e o textual-discursivo. Esses fatores foram o tipo de verbo, a realização do sintagma nominal na função de sujeito, o status informacional do SN-sujeito e a transitividade das cláusulas VS associadas ao plano de figura e fundo. As ocorrências analisadas são de amostras recolhidas de manuscritos e impressos pernambucanos dos séculos XVIII, XIX e XX, os quais foram organizados por critérios associados à tradição discursiva, selecionados junto com a equipe regional do projeto Para História do Português Brasileiro (PHPB). A integração dos fatores linguístico-discursivos permitiu a caracterização de quatro tipos de cláusulas com sujeito posposto associadas às estratégias de continuidade e descontinuidade textual (GIVÓN, 1979): VS apresentativa, VS não-apresentativa, VS de comentário e VS de discurso reportado (ATAÍDE, 2013). Essas construções, dependendo de sua escala de transitividade, podem configurar-se em “porções” centrais ou periféricas da organização dos textos e, pragmaticamente, cumprem a função de introduzir uma informação nova, de participar do fluxo informacional do texto e de apresentar comentários e discursos reportados. Palavras-chave: Ordem VS; fatores linguísticos, textual-discursivos; manuscritos e impressos.