Sufixos aumentativos e diminutivos tipicamente afixam-se a adjetivos e substantivos no português do Brasil. Semanticamente, introduzem uma escala associada a propriedades do referente do substantivo ou propriedades denotadas pelo adjetivo; morfologicamente, não mudam a classe da palavra de base; preservam diversas propriedades fonológicas desta (ARMELIN, 2011; BISOL, 2010; FERREIRA, 2005; MENUZZI, 1993).
Entretanto, chorão, reclamão, vomitão, babão, vacilão, mijão, cagão, peidão, comilão, repondão parecem formações derivadas de verbos que atribuem nova classe à palavra final. Ademais, apesar de, tipicamente, o nome formado denotar propriedade de um dos argumentos do verbo, a escala introduzida pelo aumentativo não está ligada a alguma propriedade deste indivíduo, mas a propriedades do evento denotado pelo verbo de base: frequência ou intensidade. Ainda: (a) a combinação de verbo com diminutivo não é permitida na língua; (b) a maior parte dos verbos em tais formações é inergativa ou tem versão inergativa; e (c) quando acrescentamos outro aumentativo (ou diminutivo) sobre o primeiro, o segundo pode introduzir uma escala para propriedades do referente do nome formado, não do evento.
Usando o arcabouço teórico da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1994; MARANTZ, 1997), esperamos explicar as características listadas.
Assumiremos que a lista 1 do PB possui um morfema nominalizador que inclui tanto traços associados ao aumentativo quanto traços de Voz (KRATZER, 1996). Não há um equivalente com traços diminutivos no léxico estrito do PB. O aumentativo modifica o evento denotado pelo verbo e introduz escalas para frequência ou intensidade deste. Um segundo morfema aumentativo ou diminutivo pode ser anexado a esta forma nominal, introduzindo uma escala tanto para o referente do nome como para o evento denotado pelo verbo de base. Com a nominalização, é como se duas variáveis, do tipo evento e do tipo entidade, ficassem disponíveis para modificação adverbial (LARSON, 1995), incluindo-se modificação por sufixos (BACHRACH; WAGNER, 2007).
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