Os profissionais que atuam em ambientes legais, tais como o das Delegacias Civis brasileiras, têm como uma de suas atividades buscar provas físicas e testemunhais que comprovem um crime/delito.
Para esse trabalho de geração de provas físicas, buscas e apreensões, coleta de fotos, exames de corpo de delito, dentre outras ações são realizadas. Já as provas testemunhais são construídas interativa e discursivamente nos interrogatórios policiais, momentos nos quais são feitas perguntas aos envolvidos, que possibilitam à inspetoria construir um relatório sobre a existência ou não do crime. Essas versões são empacotadas, muitas vezes, em narrativas que vítimas e suspeitos contam. Assim, as provas testemunhais coletadas nesse encontro são discursivamente construídas em episódios narrativos trazidos à tona durante os interrogatórios policiais.
Neste trabalho, inspirados em uma metodologia qualitativa e que congrega elementos de base etnográfica, buscamos analisar as histórias presentes nos interrogatórios policiais contadas no contexto legal de uma Delegacia da Mulher, seguindo a proposta laboviana de estrutura narrativa.
Nesse cenário, buscaremos observar a relação entre a estrutura narrativa e a coleta de provas testemunhais.
Para nossa pesquisa, usaremos uma perspectiva teórica que integra estudos interacionais sobre as narrativas (MISHLER, 1986; RIESSMAN, 2008; DE FINA, 2003; BASTOS, 2005, 2008; SACKS, [1968] 1992; GARCEZ, 2001; BAMBERG, 2002; MOITA LOPES, 2009), bem como adotaremos, sobretudo, os estudos labovianos (LABOV, 1972).
Como resultados desse trabalho analítico, vimos como as narrativas, presentes nos interrogatórios policiais analisados, seguem – em sua maioria – a estrutura narrativa proposta por Labov, no sentido de que, com pequenas variações (tempo verbal e ponto, especificamente), elas apresentam os elementos elencados: resumo, ponto, ações complicadoras, resolução, coda e avaliação. Com isso, vimos também como os elementos elencados na estrutura laboviana parecem atender a objetivos locais dos interrogatórios analisados, já que estão atrelados ao trabalho interacional de coleta de provas testemunhais.
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