A aquisição da escrita é, de modo geral, um processo complexo, em que a criança testa hipóteses acerca de um sistema com o qual ela tem contato muito precocemente, graças às práticas de letramento a que está exposta no seu cotidiano. Nosso objetivo principal é analisar de que maneira se desenvolve o processo de segmentação da escrita de uma mesma criança, partindo do estudo de sete textos por ela produzidos durante as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Os textos foram coletados por meio de oficinas de produção textual, as quais visavam à criatividade e à espontaneidade no momento da escrita. A escolha dessa metodologia fundamenta-se na ideia de que quanto mais espontâneo o texto da criança, mais revelador dos processos de aquisição da escrita ele se torna, uma vez que esse tipo de texto proporciona o registro da variação inicial de um sistema em aquisição. Com base na relação fala/escrita, buscamos entender que motivações levam a criança a segmentar, de maneira não convencional, o texto. Desenvolvemos nossa análise, buscando explicar as segmentações não convencionais especificamente por meio de uma relação estreita com a fonologia prosódica e seus constituintes (cf. NESPOR & VOGEL, 1986), todavia, sem perder de vista que o sujeito aprendente é ativo no processo de aquisição da escrita. Partimos do pressuposto que, através da observação das hipóteses que a criança testa, por meio de suas “idas e vindas” entre diferentes possibilidades de grafia, podemos inferir quais os aspectos do conhecimento linguístico, mais especificamente, do conhecimento prosódico, são responsáveis pelo tipo de segmentação não convencional nos textos de séries iniciais. De modo geral, o que se percebe nos textos infantis é que a escrita parte de textos que apresentam maiores quantidades de formas unidas e evolui para textos com uma segmentação cada vez mais próxima à segmentação padrão.
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