O autor-criador Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e suas personagens Raskólnikov (Crime e castigo) e Ivan Karamázov (Os irmãos Karamázov) são o corpus desta pesquisa. Entre o autor-criador do romance polifônico e os heróis ditos polifônicos - segundo o filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin (1997)-, há um escalonamento de tensividade – eixo semântico que possui, de um lado, a intensidade (o sensível), de outro, a extensidade (o inteligível), conforme os desdobramentos da semiótica tensiva de Fontanille e Zilberberg (2001) – que regula os graus de soltura das rédeas autorais. Esta é a proposta trazida por esse estudo semiótico que pretende, por meio do arsenal teórico-metodológico oferecido pela Semiótica de linha francesa, operacionalizar o conceito de polifonia. Para tanto, o gênero romance polifônico, definido por Bakhtin (1997), é explorado por meio da análise do percurso gerativo de sentido e da tensividade dos atores do enunciado, seja o da enunciação enunciada (Dostoiévski), seja os do enunciado (de um lado, Raskólnikov; de outro Ivã Karamázov). Emparelhando, desse modo, a filosofia bakhtiniana e a semiótica da Escola de Paris, dois domínios teóricos distintos mas que se aproximam, este estudo visa aprofundar a concepção dialógica de ator na semiótica. Assim sendo, por meio da análise de trechos considerados polifônicos dos dois personagens dostoievskianos supracitados, este estudo verificou os recursos discursivos que sustentam o corpo uno somente enquanto múltiplo, isto é, habitado por uma multiplicidade de vozes e posicionamentos sensíveis, de acordo com a proposta de Discini (2013; 2006). Portanto, essa análise permite não somente a sistematização do conceito bakhtiniano de polifonia, como também possibilita a observação e a constatação de um sujeito discursivo dado na ordem do sobrevir, isto é, na eventicidade, desestabilizado de um centro dado em si. Essa discussão, ressaltamos, são os resultados parciais de uma pesquisa de mestrado orientada pela Profa. Dra. Norma Discini.
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