Pretendemos colocar em discussão a singularidade da trajetória linguística da criança, por meio de uma abordagem do espelhamento concebido, por Cláudia Lemos, como o movimento pelo qual fragmentos da fala da mãe retornam na fala da criança, reaparecendo na fala da mãe ao interpretar as produções verbais infantis. Nessa perspectiva, interessa-nos investigar tanto o retorno, quanto a aproximação de fragmentos dos enunciados maternos, na fala da criança, como efeito do funcionamento estrutural da língua. Aderimos, então, à proposta de que tal efeito possui um caráter singular, na aquisição de linguagem. A fim de ilustrar essa proposta, analisaremos produções verbais de duas crianças, num momento muito inicial de seu percurso linguístico. A noção de singularidade, por sua vez, é aqui assumida, não como diferenças ou particularidades nas manifestações verbais infantis, mas como modos pelos quais essas manifestações transgridem os padrões linguístico-discursivos.
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