A afasia consiste em um comprometimento de linguagem, decorrente de lesão neurológica adquirida no sistema nervoso central, que se manifesta verbalmente em dificuldades de enunciação, podendo também se manifestar sistemicamente em dificuldades de compreensão verbal. Estudos seminais acerca das afasias (Goldstein, 1939 e 1948; Jackson, 1931) espraiam a visão de que o comportamento linguístico de pessoas com afasia pode ser visto, no mínimo em parte, como uma manifestação da adaptação aos efeitos da lesão subjacente, ao invés de simplesmente ser uma reflexão direta dessa lesão. Nesse sentido, Penn (1987) argumenta que as estratégias utilizadas por pessoas com afasia para lidar com o déficit linguístico envolvem adaptação do uso de recursos linguísticos limitados, e defende a tese de que o uso do ‘discurso reportado direto’ é uma estratégia de simplificação. Acerca do fenômeno do discurso reportado, Tannen (1989) advoga que o discurso reportado não é reportado num todo, mas é criativamente construído por um falante corrente em uma situação corrente. Assumindo a tese de Penn (1987) e a visão de Tannen (1989), este estudo, de natureza construcionista e interpretativista, insere-se no quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso e tem como objetivo investigar os benefícios interacionais do uso do discurso reportado direto por pessoas com afasia. Para tanto, de um corpus de aproximadamente 15 horas de gravações em vídeo, gerado a partir do método de entrevista de grupo focal (cf. Morgan, 2002), foram selecionados para análise trechos de interações face a face em que uma pessoa com afasia utiliza o discurso reportado direto. O material linguístico sob análise foi transcrito de acordo com convenções propostas pelos analistas da conversa. As análises empreendidas nos permitem observar diversos benefícios interacionais do uso do discurso reportado direto como uma estratégia para lidar com o déficit linguístico e como um recurso alternativo para construção de sentidos.
|