S3. Análise do Discurso (Comunicações)

IDENTIDADE DISCURSIVA E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO: MULHERES NEGRAS EM DOIS DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS
MARIANA JAFET CESTARI 1
1. UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
marianajcestari@gmail.com



O objetivo do trabalho é, a partir da Análise do Discurso materialista, em diálogo com a produção das intelectuais negras brasileiras Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez, discutir a construção discursiva de identidades de mulheres negras no Brasil, tendo como base para o corpus de pesquisa dois documentários: Ori (Raquel Gerber, 1989) e Atabaque Nzinga (Octávio Bezerra, 2006). Entre outras temáticas que percorrem, a questão da identidade está colocada em ambos, com destaque para a reflexividade dos dizeres das mulheres negras que são personagens nas narrativas. Ori retoma a história e memória do movimento negro no Brasil entre 1977 e 1988, e tem o quilombo como fio condutor da narrativa. Neste filme, Beatriz Nascimento é narradora, pesquisadora e personagem. Sobre a relação entre identidade e visibilidade para si e para o outro, ela afirma: “É preciso imagem para recuperar a identidade, tem que tornar-se visível, porque o rosto de um é o reflexo do outro”. O segundo é um documentário ficcional musical cuja narrativa organiza-se em torno de um jogo de búzios e tem como protagonista a jovem Ana que, na busca por auto-conhecimento, percorre diversas manifestações culturais afro-brasileiras. A análise destes dois documentários aborda processos de subjetivação/identificação na resistência, em que há reprodução e deslocamento de sentidos na construção da visibilidade política e histórica constitutiva de um lugar de enunciação das mulheres negras. As análises apontam para os funcionamentos de redes de memórias que se encontram na relação entre metáforas (a exemplo do oceano Atlântico como metáfora do trânsito entre África e Brasil), referências históricas (como a escravidão e a resistência a ela, com destaque para personalidades como Zumbi e a rainha Nzinga) e culturais (como o carnaval e o candomblé).


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