DESENVOLVIMENTO BILÍNGUE BIMODAL: ESTUDOS EXPERIMENTAIS Os estudos com crianças ouvintes, filhas de pais surdos, e com crianças surdas com implante coclear, por meio da aplicação de diferentes testes de linguagem, tem contribuído para o entendimento sobre a consolidação das línguas em bilíngues bimodais. A diferença na modalidade não implica em comprometimento da aquisição da linguagem, mas pelo contrário, indicam que os bilíngues bimodais desenvolvem de forma completa ambas as línguas. A presente sessão coordenada estará apresentando alguns dos estudos que evidenciaram estas conclusões por meio de estudos experimentais. Resumo #1MOSAICO DA LINGUAGEM DAS CRIANÇAS BILÍNGUES BIMODAIS: ESTUDO EXPERIMENTAL Este trabalho apresenta a metodologia utilizada no estudo experimental que investiga o desenvolvimento bilíngüe bimodal a partir do estudo de vários aspectos linguísticos da língua de sinais (libras) e da língua oral (português) utilizadas por crianças surdas com implante coclear (IC) e crianças ouvintes filhas de pais surdos (codas), compondo o mosaico da linguagem dessas crianças. As crianças estão na faixa etária de 04 a 08 anos de idade e a coleta de dados ocorreu por meio de feiras em diferentes cidades do Brasil, onde foram realizados 24 testes, sendo que a metade deles é realizada em libras e a outra metade em português. As feiras reúnem os pais e as crianças com atividades lúdicas, pedagógicas e sociais que tornam o dia da coleta um momento prazeroso. Além desses dois grupos de crianças, participaram da pesquisa crianças surdas, tanto filhas de pais surdos quanto filhas de pais ouvintes, e adultos codas, com o intuito de constituírem os grupos de controle. Os testes realizados abordam diferentes elementos linguísticos que vão compor esse mosaico nas duas línguas: habilidades linguísticas, consciência fonológica, percepção e produção de fala e sinais, repetição não-lexical, vocabulário, ordem das palavras e sinais, eliciação de interrogativas (perguntas QU), morfologia verbal, interação dos pais com a criança (amostra de input), amostra de conversação/narrativa, teste de QI. O presente trabalho apresenta os diferentes testes desenvolvidos e aspectos metodológicos implicados durante as coletas de dados. Os testes serão ilustrados com exemplos das próprias crianças com evidências de êxito metodológico ou problemas identificados durante as aplicações. A partir dos problemas identificados, foram organizadas novas versões nos testes em que houve necessidade para a coleta de dados das etapas seguintes da pesquisa. Resumo #2ANÁLISE DE HABILIDADES LINGUÍSTICAS EM LIBRAS EM CRIANÇAS BILÍNGUES BIMODAIS Este trabalho apresenta os resultados das primeiras análises do teste de Habilidades Linguísticas em Libras, que tem como objetivo avaliar a linguagem compreensiva da criança. Os itens do teste são compostos de sentenças sinalizadas e a criança precisa escolher uma figura que melhor representa o que foi dito em sinais, entre quatro figuras. São 42 itens filmados que incluem distribuição/número, negação, nome-verbo, verbos espaciais/locação, verbos espaciais/ação, classificadores de tamanho e forma, classificadores manuais, mudança de papéis e sentenças condicionais. Esse teste compõe o rol de testes que fazem parte do projeto Desenvolvimento Bilíngue Bimodal, financiado pelo National Institute of Health (NIH), que tem como objetivo investigar, a partir do estudo de uma língua de sinais e uma língua oral utilizadas por crianças surdas com implante coclear (IC) e crianças ouvintes filhas de pais surdos (codas), como se dá o desenvolvimento da linguagem em crianças bilíngues bimodais. Os dados apresentados são de 28 crianças (22 codas e 6 IC, sendo uma delas filhas de pais surdos), com idade entre 4 e 8 anos. Além delas, participaram da pesquisa como grupos de controle, 3 crianças surdas, na mesma faixa etária, e 6 adultos codas. Nas análises preliminares percebe-se certa dificuldade na identificação da perspectiva do que está sendo sinalizado e da incorporação da ação por parte do sinalizante; entretanto, as respostas diferentes do esperado são as mesmas para a maioria das crianças. Quanto aos resultados encontrados, de forma geral, as crianças codas tem um desempenho melhor no teste em relação às crianças com implante coclear filhas de pais ouvintes. Já a criança com IC filha de pais surdos apresenta um desempenho semelhante às crianças codas, mostrando que o acesso precoce à língua de sinais influencia na compreensão das estruturas apresentadas no teste. Resumo #3AVALIAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO FONÊMICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E DA LIBRAS EM DE CRIANÇAS SURDAS OU OUVINTES BILÍNGUES BIMODAIS A discriminação fonêmica dos sons da fala é uma habilidade fundamental para a língua oral ser adquirida de forma esperada. O mesmo acontece com a discriminação fonêmica de pares mínimos da Libras. Dessa forma, quando há alterações no processo da aquisição da língua oral ou da língua de sinais investiga-se a possibilidade desta habilidade estar alterada. O presente estudo avaliou a discriminação fonêmica de 35 crianças bilíngues bimodais (filhos de pais surdos e crianças com implante coclear, usuários de Língua de Sinais Brasileira (Libras) e Português Brasileiro (PB), por meio do Teste de Figuras para Discriminação Fonêmica – TFDF (CARVALHO, 2007) para o PB e do Teste de Discriminação Fonêmica de Pares Mínimos da Libras, seguindo a organização do teste elaborado por Carvalho. O objetivo foi analisar e comparar o desempenho dos participantes. Nos resultados foi constatado que as crianças ouvintes, os adultos ouvintes e a criança surda usuária de IC, que possui acesso irrestrito à língua de sinais (filha de pais surdos), apresentaram alta porcentagem de acerto nos testes. As crianças usuárias de IC com acesso restrito à língua de sinais (filhas de pais ouvintes usuários do PB) apresentaram desempenho inferior e/ou demonstraram dificuldade significativa na execução do teste. Os resultados deste estudo mostram que o desenvolvimento da habilidade de discriminação fonêmica do PB e da Libras pode ocorrer de forma esperada em bilíngues bimodais, surdos ou ouvintes. A maioria das crianças surdas usuárias de IC apresentou dificuldades significativas nesta habilidade. O fato de a criança surda com maior exposição à Libras apresentar melhor desempenho indica que, neste caso, a aquisição de uma língua de modalidade visuoespacial não dificultou o desenvolvimento da habilidade de discriminação fonêmica. | |
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