O foco desta pesquisa é a variação na concordância nominal em estruturas de predicativos do sujeito e na voz passiva. No Brasil, durante período da colonização, houve um massivo contato entre línguas, situação que poderia “conduzir à formação de uma língua historicamente nova, denominada língua pidgin ou crioula, ou à simples formação de uma nova variedade histórica da língua que predomina na situação de contato” (Lucchesi, 2000, p. 99). Assim, defende-se a hipótese de que, ainda que não tivesse sofrido uma crioulização, o PB foi bastante alterado devido a um processo de transmissão linguística irregular e, como de costume nestas situações, houve uma redução da morfologia flexional da língua alvo. A realidade linguística atual se apresenta de forma bipolar, com norma(s) culta(s), e, de outro, norma(s) vernácula(s), que compõem os padrões coletivos da maioria da população brasileira. Aqui, busca-se comprovar a hipótese de que o falante popular da variedade urbana do português do Brasil está em um ponto, no continuum de formas linguísticas, consideravelmente distante de onde se encontra um falante popular de uma variedade rural isolada. Para isto, faz-se uma análise da fala popular urbana de cinco bairros periféricos de Salvador, em comparação com resultados de trabalhos anteriores sobre a fala popular do interior do Estado da Bahia, em comunidade marcadas e não-marcadas etnicamente. Utiliza-se a Teoria da Variação, analisando 60 entrevistas; os informantes foram divididos em três faixas etárias (25 a 35 anos; 45 a 55 anos e mais de 65 anos) e por sexo. Os resultados mostraram a existência de um continuum linguístico, que parte de uma situação em que a concordância é muito baixa em comunidades afro-brasileiras isoladas indo em direção a uma maior marcação de concordância na fala popular urbana.
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