A janela trissilábica do acento (JTA) no Português Brasileiro (PB) é uma característica herdada do Latim Clássico, que não se manteve no Latim Vulgar nem tampouco no Português Medieval. Este fenômeno, no Latim Clássico, era governado por uma regra segundo a qual se acentuava a terceira sílaba a contar da borda direita da palavra, caso a penúltima fosse leve. O PB não herdou esta regra por não distinguir sílabas leves de pesadas, sendo, então, o acento antepenúltimo tratado como lexical, pelo menos nos nomes. Numa perspectiva métrica, esta operação é efetuada pelo recurso da extrametricidade, que deixa a sílaba final das proparoxítonas imune às regras (Bisol, 1994). Pela Teoria da Otimidade, a restrição NonFinality (Hyde, 2003) proíbe a escansão de elementos finais, impedindo o acento na última sílaba, enquanto uma restrição de alinhamento – AlignRight – (Kager, 1999) empurra o acento para a direita. Norteado por essas duas perspectivas, apresentaremos aqui uma terceira proposta, cuja ideia central é dispensar tanto a extrametricidade quanto a restrição NonFinality. Partimos do princípio de que a extrametricidade não necessita de uma restrição específica para ser efetuada, e defendemos que seus efeitos surgem como um epifenômeno da hierarquia de restrições. Para tanto, propomos duas restrições independentemente motivadas e conflitantes, quais sejam: RighMost e Grid-uHead. No PB, a primeira domina a segunda numa operação que mantém os princípios da teoria, como a Riqueza da Base, e capta todos os fatos relativos à JTA. A motivação para estas restrições advém das propriedades rítmicas do acento (Kager, 1999), as quais exigem projeção de cabeças para moras portadoras de proeminência (Grid-uHead) e mantêm elementos proeminentes sempre à direita da palavra (RighMost). Assim, tanto o acento de um item lexical como fôlego, com três sílabas leves, como o de árvore, com a antepenúltima sílaba ramificada, são obtidos numa mesma operação.
|